Semana passada li o texto "Séries como Narcos estão mudando o Netflix" (e a televisão) do Daniel Castro, ele afirma que é “inevitável o futuro dos canais pagos e das emissoras abertas será a distribuição on demand, a cabo ou pela internet, cada vez mais o telespectador educado pelos torrents e pela Netflix irá exigir conteúdo de diferentes línguas e culturas”. 

A análise feita é como a internet e o Netflix globalizou as séries, usando de exemplo a série Narcos produzida por uma produtora francesa para uma empresa americana ambientada na Colômbia, com um diretor brasileiro e em dois idiomas (inglês e espanhol).

Enfim o foco desse texto não é a série e nem o serviço via streaming, destaco o trecho, pois concordo com o Daniel quando se refere aos torrents, por exemplo hoje podemos escolher se assistimos em casa ou no cinema; se pagamos a TV à cabo ou baixamos da internet. Entendo que há direitos autorais envolvido e não vamos entrar nessa polêmica. 

Dias atrás uma amiga me enviou um e-mail cheio de instruções de como baixar torrent e que eu DEVIA (sim, com letras maiúsculas) ver Spotlight-Segredos Revelados, ganhador de melhor filme no Oscar em 2016, ainda em cartaz em algumas seletas salas de cinema pelo país, nas populares não encontrará com tanta facilidade.

Formei-me recentemente em jornalismo, uma profissão árdua, cansativa e às vezes dá vontade de desistir e recomeçar do zero. Tudo fica para trás quando leio e vejo matérias feitas nos padrões aprendidos na universidade. Ao terminar o filme entendi o porquê eu devia ver o filme. Baseado em fatos reais, Spotlight-Segredos Revelados retrata como a equipe (que tem o mesmo nome do filme) do The Boston Globe investigou os abusos sexuais cometidos por padres em Boston. Em 2002, foi publicada uma série de matérias mostrando o envolvimento de 70 padres nesse crime, que expôs como a igreja católica encobriu-os e ignorou as vítimas. A mesma igreja há alguns anos pediu desculpas pelos atos através do Papa Francisco. 

Desde a publicação dessas matérias foram descobertos casos em diversos países, inclusive no Brasil, algo comprovado nos créditos finais. Vale ressaltar que Boston é uma das cidades mais católicas do Estados Unidos, por isso é tão escandaloso descobrir e publicar casos como estes. 

Com um roteiro envolvente, Spotlight-Segredos Revelados mereceu o Oscar porque retratar a redação do jornal em uma época que a internet engatinhava e os computadores já começava a dominar nosso ambiente de trabalho. Também é possível perceber que o filme é de baixo custo, porém torna-se algo pequeno diante do tema retratado. 

Spotilight faz jus a escolha dos membros da academia, pois comparado com O Regresso (indicado para 12 categorias) tem um roteiro previsível e cansativo, apesar da excelente atuação de Leonardo Di Caprio. 

O filme faz relembrar cada aula sobre ética, apuração, pesquisa e condução de entrevista. Em um momento que a internet não reinava e ainda falávamos por telefone ou pessoalmente. Fazendo assim a esperança renascer para a profissão que muitas vezes é desvalorizada, mal paga e acumulativa de funções. 

Hoje há ausência dessas matérias investigativas, essas descobertas pelos jornalistas, não pela polícia. Falta também boas histórias, com embasamento e aquela pesquisa citada acima. Em tempos que entrevistamos o personagem por e-mail no máximo whatsapp ver os profissionais no filme, ligando, batendo de porta em porta atrás da fonte, pesquisando na biblioteca ou solicitando matérias no arquivo do jornal é sensacional, apesar de não ter vivido e nem viverei. 

Entretanto, o prazer de investigar, apurar, entrevistar e escrever um jornalista nunca perde, deduzo que devido a isso continuamos nessa jornada em busca de matérias todos os dias, mesmo com o atual cenário de crise política, financeira e da comunicação brasileira.